A razão pela qual os tecidos se enrugam está na sua própria natureza química. É um processo de ruptura e formação de ligações intermoleculares reguladas pelo calor, pressão e água. Compreender a intimidade desse fato, do ponto de vista da química, permitiu-nos desenvolver novas técnicas de passar a roupa que exigem menos esforço e reduzem o impacto ambiental, prolongando a vida útil da roupa e reduzindo o consumo de energia.
Passar para mim sempre foi sinonimo de cuidar da roupa. Tanto o meu pai quanto a minha mãe dedicaram grande parte de suas vidas à moda. Com eles aprendi o gosto por roupas bem feitas e também a tratá-la com amor. A engomagem faz parte da finalização das peças de roupa, desde a abertura de uma costura até a fixação de uma aba. Aprendi a passar ponto e tecido. Seda, algodão, linho e o que me ponham à frente. Desde pequena até hoje
COMO SE FORMAM AS RUGAS
Os tecidos de origem vegetal, como o algodão, o linho ou o cânhamo, são formados por celulose. A celulose é um polímero linear, ou seja, é composto de unidades de glicose unidas uma após a outra, como as contas de um colar. Ligações fracas chamadas ligações de hidrogénio são estabelecidas entre as cadeias de celulose.
Essas ligações de hidrogênio são particularmente dinâmicas, podem se quebrar e voltar a formar-se com alguma facilidade. Somente a pressão exercida por uma peça dobrada sobre outra é capaz de modificar as ligações de hidrogênio de alguns tecidos, por isso algumas roupas se enrugam com tanta facilidade.
Os tecidos enrugam mais ou menos de acordo com sua composição. Os tecidos de celulose natural são os que mais se enrugam (algodão, linho ...). Os tecidos das fibras de celulose regeneradas enrugam menos. Eles são fabricados a partir de celulose natural. Primeiro, a celulose sofre transformações químicas para convertê-la em nitratos ou acetatos de celulose e, em seguida, reconfigura-se em fibras. Rayon, viscose, acetato ou tencel são fibras de celulose regeneradas. As fibras sintéticas (poliéster, nylon ...) têm uma natureza mais variada, mas em geral tendem a enrugar menos. E, finalmente, as que menos se enrugam são as fibras de origem animal, como seda e lã.
Uma das razões pelas quais as fibras sintéticas ou regeneradas, como elastano ou viscose, são adicionadas aos tecidos naturais, é que o tecido se enruga menos, além de ganhar flexibilidade e se adaptar melhor ao corpo.
A estrutura dos tecidos também influencia a formação de rugas; portanto, tecidos lisos, como os de camisa convencional, enrugam mais que os tecidos de malha, como os de uma camisola, embora ambos tenham a mesma composição.
Também tem influencia a contagem de fios por centímetros quadrados e a firmeza das costuras. Quanto mais solto é o tecido, mais fácil é de formar rugas. Além disso, os fios são torcidos um sobre o outro, de modo que quanto mais esticados e tensos, eles permanecerão mais retos no tecido. Tecidos de alta qualidade, como um xaile, não enrugam por esse motivo. Os tecidos de baixa qualidade enrugam muito porque os fios estão desbotados, muito abertos.
Do ponto de vista químico, a formação de rugas é entendida como um processo de ruptura e formação de ligações nas quais influenciam fatores como umidade, temperatura e pressão. Os polímeros que compõem os tecidos têm dois tipos de ligações: ligações fortes chamadas covalentes que mantêm os monômeros que compõem o polímero e ligações fracas de hidrogênio que mantêm os polímeros unidos.
As ligações covalentes são fortes demais para romper devido à pressão ou temperatura à qual normalmente sujeitamos as nossas roupas, mas elas se tornam mais dúcteis. Esse processo é conhecido como transição vítrea, na qual um polímero amorfo pode evoluir para vítreo (duro e reorganizado) pela ação da pressão e da temperatura. Por exemplo, o algodão tem o ponto de transição vítrea a 22 ° C com uma umidade relativa de 78%, ou seja, quando o algodão exceder esses parâmetros, ele começará a enrugar.
As ligações de hidrogênio são fracas o suficiente para quebrar devido à pressão, temperatura e umidade. As moléculas de água podem ser colocadas entre polímeros de celulose condicionando as ligações que estabelecem umas com as outras. Este processo é favorecido pelo calor. Quando a roupa seca, ela perde essas moléculas de água por evaporação e as ligações de hidrogênio são reformadas, mas são estabelecidas na nova posição que adotaram, lisa ou amassada. Essa é a razão pela qual as roupas ficam enrugadas na máquina de lavar e as mantêm secas depois de secas.
Os tecidos à base de celulose, como algodão, linho e rayon, são os que mais se enrugam, porque têm mais capacidade de abrigar água entre as suas fibras do que os tecidos sintéticos, como poliéster ou poliamida.
COMO DESAPARECEM AS RUGAS AO ENGOMAR
Ao passar, aplicamos fundamentalmente pressão e calor nos tecidos. Isso amolece o tecido (atingimos a temperatura de transição vítrea) e nos permite reordená-los até que os polímeros de celulose se alinhem como desejamos. Ao esfriar, as ligações covalentes mantêm a posição que forçamos e novas ligações de hidrogênio são estabelecidas para mantê-las estáveis em sua nova posição.
Para facilitar esse processo, também usamos vapor de água. A água favorece o aparecimento de rugas, mas através do mesmo mecanismo também nos permite desfazê-las sem a necessidade de aplicar tanta pressão e temperatura. Ao passar a vapor, estamos reorganizando os polímeros de celulose e introduzindo moléculas de água entre as fibras que induzem a formação de novas ligações de hidrogênio.
Ao aplicar vapor, o processo de passar a ferro é mais delicado e mantém a integridade dos fios, tornando-o um fator determinante no cuidado dos tecidos.
PASSAR A FERRO AUMENTA A VIDA ÚTIL DA ROUPA
O setor têxtil produz um alto impacto ambiental. Desde a produção de tecidos, roupas e condicionamento de roupas acabadas. A quantidade de roupa consumida e a rotação crescente também são decisivas, pois a roupa é comprada e jogada em ciclos cada vez mais curtos. Isso não é apenas influenciado pelos altos e baixos da moda e da cultura do consumidor, mas também pela qualidade e cuidado das roupas.
As fibras de celulose regeneradas são fiadas com spinneret. Esse mecanismo permite regular o grau de prensagem das fibras que compõem os fios. Quanto mais e melhor pressionadas forem as fibras, mais difícil será removê-las. Quando parte das fibras se desprende, o tecido parece envelhecido e favorece a aparência das bolas temidas. A razão é que as fibras soltas restabelecem novas ligações de hidrogênio umas com as outras fora do tecido. Isso acontece nas fibras de celulose natural e regenerada.
Ao passar o ferro, evitamos esse processo de envelhecimento, pois forçamos as fibras a manter elos entre si na trama do tecido. Também podemos reverter esse processo em grande parte, pois, ao passar a vapor, forçamos as fibras soltas a voltarem para o tecido. aderir à trama principal. Esta é uma das razões pelas quais o engomar aumenta a vida útil das roupas.
Ao longo da história, passar roupas também serviu para manter os micróbios patogênicos afastados. 70 anos atrás, foi passada para evitar três doenças infecciosas horríveis que mataram milhões de pessoas. Na época, apenas nomeá-los causava terror: tifo, febre nas trincheiras e febre epidêmica recorrente. A razão é encontrada no vetor comum dessas três doenças: o pediculus humanus humanus, um parasita que precisa da roupa para viver.
É provável que os gregos e os chineses já tenham verificado que passar roupas eliminava piolhos do corpo. Mas não foi até a Guerra da Secessão Americana, quando alguns médicos e enfermeiros deixaram um registro de suas observações sobre como passar os uniformes matou os piolhos e inativou os seus ovos. Eles começaram a recomendar que os soldados passassem suas roupas com frequência, especialmente nas áreas de costura. Foi uma maneira fácil e eficaz de prevenir o tifo.
Não foi até a Primeira Guerra Mundial que o efeito do engomar foi estudado rigorosamente. Vários estudos científicos de ambos os lados mostraram que passar roupas era o melhor remédio contra esses parasitas. Ferver roupas também foi muito eficaz. Os enfermeiros desenvolveram um importante trabalho didático a esse respeito e a prática de passar a ferro se generalizou.
Com o fim da Grande Guerra, os fabricantes de eletrodomésticos começaram a produzir milhões de ferros por ano: em cada casa, um ferro. A razão pela qual ele passava roupas nas casas não era estética, mas uma medida de higiene.
[caption id="" align="alignnone" width="850"] Formación de biofilm[/caption]Atualmente, de acordo com pesquisas, 23% das pessoas continuam passando a ferro por razões de higiene. A temperatura que os tecidos atingem com o ferro é normalmente mais alta que a da lavagem, para que alguns patógenos resistentes que residem nos tecidos não desapareçam até que sejam passados a ferro, especialmente tecidos naturais como o algodão, que oferecem condições ideais para proliferação de microrganismos. Os assentamentos microbianos reduzem a vida útil dos tecidos, além de serem uma fonte de infecção. E se esses micróbios formarem um biofilme, uma colônia estabelecida praticamente impossível de destruir, o tecido se tornará um resíduo irrecuperável.
O IMPACTO MICROAMBIENTAL DA ENGOMAGEM
A indústria têxtil é um dos maiores produtores de gases de efeito estufa e representa aproximadamente 10% das emissões globais. Levando em consideração todo o ciclo de vida dos produtos têxteis, da produção ao descarte, a maior quantidade de energia é consumida durante o tratamento ao produto (ou seja, lavagem, secagem, engomar e outros processos de manutenção), que representa quase 39% dessas emissões de gases de efeito estufa. Portanto, o cuidado sustentável dos produtos têxteis é fundamental para reduzir seu impacto ambiental.
Uma fibra de algodão requer um alto gasto de energia sob seus cuidados. Por exemplo, para uma camisa de algodão, 40% do gasto de energia corresponde à manufatura, os 60% restantes são devidos apenas à manutenção que o consumidor enfrenta durante a lavagem, secagem e engomagem. Por esse motivo, é conveniente usar dispositivos que possam ser usados para consumo de energia.
De acordo com o Guia Prático de Energia do Instituto de Diversificação e Economia de Energia (IDAE) do Ministério da Indústria, Turismo e Comércio, uma família média em Espanha consome cerca de 4.000 kWh por ano. No caso de uma casa que possuísse todo o equipamento elétrico, 7% seria o de pequenos eletrodomésticos, incluindo o ferro.
Se nos concentrarmos no engomar, o gasto de energia pode ser reduzido de duas maneiras. Um deles passa por engomar maiores quantidades de roupa de cada vez. Em vez de ligar o ferro sempre que quiser passar uma roupa, aproveite a oportunidade para passar mais roupas. E a outra maneira é optar por sistemas de passar roupa a vapor com caldeira. Segundo o relatório da IDAE, os sistemas de engomar economizam até 46% em comparação com os ferros a vapor convencionais.
—Principais fontes consultadas:
Guía práctica de la energía del Instituto para la Diversificación y Ahorro de la Energía (IDAE) del Ministerio de Industria, Turismo y Comercio.
Sustainable care of textile products and its environmental impact: Tumble-drying and ironing processes. Changsang Yun, Sarif Patwary, Melody L. A. LeHew, and Jooyoun Kim. Fibers and Polymers 2017, Vol.18, No.3, 590-596.
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S.J. Weicksel. The dress of the enemy: clothing and disease in the Civil War era. Civil War History. The Kent State University Press vol 63 133-150 (2017)
© DEBORAH GARCÍA BELLO, 2020
Lettau L.A. Nosocomial transmission and infection control aspects of parasitic and ectoparasitic diseases. Part III. Ectoparasites. Infection Control & Hospital Epidemiology 12 (3) 179-185 (1991).
Héctor Díaz- Alejo, Victoria López-Rodas y Eduardo Costas. Universidad Complutense de Madrid. Planchar la ropa no es solo una cuestión estética. Publicado en Tendencias científicas.
Los centros de planchado compensan con las grandes coladas. Estudio realizado por Consumer.
¿Qué consume más, la plancha convencional o el centro de planchado? Estudio realizado por el Laboratorio del ahorro.
How chemistry can make your ironing easier. Mark Lorch, Professor of Science Communication and Chemistry, University of Hull. Publicado en The Conversation.
¿Por qué planchar alisa la ropa? América Valenzuela. Publicado en RTVE.
Extrato do conteúdo original de Deborah García Bello. Leia o artigo completo aqui: http://dimetilsulfuro.es/2020/03/06/como-planchar-de-forma-mas-sostenible-segun-la-ciencia/